domingo, 13 de julho de 2008

PITOCO

Até onde eu sei, por volta dos anos 60 ela gostava de tirar uma onda hippie, mas não tinha qualquer afinidade com barracas, lamparinas ou viagens em kombis floridas. Era apenas estilo, intensificado por um lenço na testa que pendia até os ombros e as calças boca-de-sino que arrastava pelas ruas de Copacabana e nos choppinhos no famoso Beco das Garrafas.

Desta época eu só conheço as histórias, sempre engraçadas e contadas repetidas vezes pra me arrancar gargalhadas.
Pessoalmente, só a conheci alguns anos depois, em 1976, na minha única estada em Belo Horizonte – Minas Gerais.

Mas nossa amizade cresceu mesmo na cidade do Rio de Janeiro, onde vivemos por anos, com um intervalo vivido em Porto Alegre. Do sul, lembro de algumas coisas, de bons momentos, de alguns detalhes como as tardes frias no sul, regadas a pão cacetinho da Cobal e muito chocolate quente.

Com o tempo, comecei a descobrir outras qualidades dela e descobri que eu que era grande e ela que era pequena, com o seu 1 metro e meio e 50 quilos. Ao mesmo tempo que comecei a caber nas suas roupas, comecei também a perceber que ela não era tão pequena assim. Ela era enorme.

Não consegui usar suas roupas por muito tempo, mas começamos a dividir outras coisas. Confissões, alguns problemas, muitas risadas, mais problemas e sempre boas soluções.

É impossível descrever tudo que aprendi com ela. Mas o mais importante que ela me ensinou foi que eu era EU mesma, que não era parecida com ninguém e nem muito menos tinha que me render a nenhuma genética e dar tudo por perdido. E o mais importante: eu era legal e podia ser sempre melhor.

E como em toda amizade, com o tempo você conhece o lado B de cada um. E ela não se limita a ter um lado B! Ela tem lados C, D, E, F....Z. Nunca conheci uma pessoa tão dúbia em tudo e tão segura de sua dualidade. Ela muda de idéia sim, e daí? Pensa em alguma coisa e faz outra e não é que dá certo? Aprendi que é preciso dar o tempo de maturação. Nunca acredite na primeira resposta dela a uma pergunta. Espere, espere, espere. Daqui há uns dias, pergunte de novo e talvez esta seja a resposta final.

Hoje somos pessoas diferentes, acho que melhores. A amizade é tão grande que é pouco chamar apenas de “amizade”. È bem mais do que isso, é de outras vidas e se Deus quiser, das próximas também. É um vínculo que nunca vai morrer, que é concreto, que não se abala por pequenas discussões, geralmente causadas pela minha falta de paciência (não sou tão melhor assim..rsrs), nem pela distância, nem pelos problemas.

Eu sempre a admirei muito e hoje a admiro ainda mais. Pela força, pela coragem e até por não ter medo de ter medo. E me orgulho te ter seu sorriso, seus olhos e seu jeito de falar. Quem disse que não sou parecida com ninguém e que a genética não ia me pegar?

Essa é a Pitoco, minha melhor amiga, minha mãe.